Ontem na Feira do livro estive quase para comprar este Livro "Na Cova dos Leões", Tomás da Fonseca, Antígona, 2009.
Vou deixar uns excertos do livro que encontrei num artigo sobre o livro no Blog Orgia Literária.
" Na Cova dos Leões (1958) é uma compilação de cartas dirigidas ao então Patriarca de Lisboa Cardeal Dom Manuel Gonçalves Cerejeira (excepto as cartas que compõem a “Primeira Parte” mais os capítulos “Fecho da Abóbada” e “Relatório do Administrador do Conselho de Ourém”).
É uma versão revista e aumentada de Fátima – Cartas ao Cardeal Cerejeira (1955), muito bem contextualizada através do “Prefácio” de Luís Filipe Torgal, da “Nota relativa aos critério de edição e de revisão do texto” à “Explicação Necessária” escrita pelo autor. Essa preocupação em contextualizar é também partilhada pelo autor, dedicando a isso as primeiras quatro partes do livro, rematando já na “Quinta Parte”, «Bem sei que tenho vindo a ensinar o pai-nosso ao vigário, que neste caso é V. Em.ª. Mas se tudo sabeis, e melhor que ninguém, não o sabe a grande maioria do povo português [...]» (p. 187).
Comecemos nós também por contextualizar: Tomás da Fonseca (1877-1968) não pretende fazer um ataque exclusivamente teológico à Igreja, os alvos declarados são os empresários de Fátima (referidos o Cónego Formigão, o Padre Ferreira e o Padre Lacerda). O caso agrava-se quando todo o “episódio” de Fátima (em todos os momentos: antes, durante e após a aparição) foi construído, orquestrado com objectivos bem traçados, afastando-se largamente de uma criação ex nihilo.
O que interessa ao autor é denunciar os problemas sociais que daí advêm, o contraste sócio-económico nítido, «E o Ídolo entrou no seu novo santuário, um dos mais, senão o mais rico da cidade, tanto é o ouro, a prata e os estofos preciosos que ali se exibem ao olhar deslumbrado dos que vivem sem conforto e sem pão, em lares que são tocas de bichos ou pocilgas.» (p. 292).
Tal como esta ambição do Clero: «Ao mesmo tempo que se violentava a consciência popular, preparavam-se, de longe e de largo, outros processos de obrigar as massas a mostrar que tinham fé. Já concorriam a Fátima milhares e milhares de “convictos”. Mas não era bastante. Reclamavam-se legiões.» (p. 268),
e nós tomando parte desse questionamento em que o autor se vê obrigado a dizer «E para quê? Em.ª, para quê? Avivaria a fé dos tíbios? Não avivou! Acrescentaria alguma coisa ao prestígio da Igreja? Não acrescentou nada! Contribuiria, ao menos, para melhorar as condições morais e materiais do povo de que foi proclamada soberana? Não contribuiu!» (p. 279).
Mais que os pormenores da encenação da aparição, mais que os interrogatórios forçados aos três pastorinhos, mais que as técnicas avançadas (para a altura) de marketing, é a “Sétima Parte – O Ídolo Itinerante”, um dos capítulos mais interessantes do livro, talvez por nos presentear com episódios que o tempo omitiu e esqueceu, e tudo num estilo de relato literário, ao nível do que agora se nomeia de narrativa jornalística ou jornalismo literário.
As cartas são dirigidas ao Patriarca de Lisboa porque ele «Sabe, e não quer pôr cobro a semelhante malvadez – para não dizer indignidade –, como a Cova da Iria tem enriquecido alguns e empobrecido tantos!» (.p 368).
Como que dirigidas ao Pai, comunicando as injustiças (quando ele tem conhecimento delas) na tentativa de as ver resolvidas, «Cruzes de madeira ou cruzes de ferro são hoje, não símbolos de amor, piedade e redenção, mas chuços com que certos missionários ameaçam os que não se lhes ajoelharem aos pés, nos confessionários, onde se inculcam como verdadeiros e únicos enviados de Deus.» (p. 38).
Na Cova dos Leões é uma lança apontada à armadura mais poderosa da Igreja: o Temor.
Fátima está longe de ser considerada assunto velho, acabado. Afirmar isso é tentar encobrir. O desejo de Tomás da Fonseca é que «Ninguém, pois, deixe alastrar a credulidade que facilmente degenera em superstição, sendo a mais perigosa a das “aparições” de agentes sobrenaturais. Venham donde vierem! Trazidas por um ignorante ou por um sábio, por um cardeal ou por um papa, neste ramo do maravilhoso, a autoridade é sempre a mesma. Combatê-la é, portanto, um sagrado dever moral e cívico!» (pp. 378-379). "
por Paulo Serra
Dedicado ao Papa Bento 16, para ir lendo na sua visita a Portugal.
LN
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