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segunda-feira, 1 de agosto de 2011

O Outro somos nós


Frei Bento Domingues

Frade da Ordem dos Dominicanos, teólogo, professor, escritor


Público, 31 de Julho de 2011

O outro somos nós

"
2.
Para quem pode, as férias são tempo de viagens, da ilusão do encontro com o outro. Hoje, já não é preciso viajar para encontrar as mais diversas gentes. José Augusto introduz o seu texto com um fragmento da Ode Marítima, de Álvaro de Campos:


As viagens, os viajantes – tantas espécies deles!
Tanta nacionalidade sobre o mundo! Tanta profissão!
Tanta gente!
Tanto destino diverso que se pode dar à vida,
À vida, afinal, no fundo sempre, sempre a mesma!
Tantas caras curiosas! Todas as caras são curiosas
E nada traz tanta religiosidade como olhar muito para gente.
A fraternidade afinal não é uma ideia revolucionária.
É uma coisa que a gente aprende pela vida fora, onde tem que tolerar tudo
E passa a achar graça ao que tem de tolerar,
E acaba quase a chorar de ternura sobre o que tolerou!
Ah, tudo isto é belo, tudo isto é humano e anda ligado
Aos sentimentos humanos, tão conviventes e burgueses,
Tão complicadamente simples, tão metafisicamente tristes!
A vida flutuante, diversa, acaba por nos educar no humano.
Pobre gente! Pobre gente toda a gente! ”

Alain Badiou considera a Ode Marítima um dos maiores poemas do século XX. No entanto, para este filósofo é “impossível – e contudo real – que povos notoriamente orgulhosos da liberdade individual, da privacidade, dos direitos do cidadão e do homem, da singularidade e dos particularismos, se tenham transformado em pouquíssimo tempo numa massa de ovelhas, controlados, vigiados, espiados, monitorizados em toda a sua actividade através de uma tecnologia invasiva e lesiva da descrição e da delicadeza, tratados como malfeitores e terroristas potenciais, enlatados em meios de transporte semelhantes a carne de animal, frustrados, presos e misturados com a má educação generalizada, vexados pelo software que não prevê excepções, obrigados a uma vida programada nos mínimos detalhes e que elimina qualquer experiência do poético, que não deixa espaço para a meditação e para a elaboração da experiência, submersos por um cúmulo de idiotice e por uma publicidade asfixiante”.

3.
Invocando direitos humanos inalienáveis, umas vezes reclamamos o reconhecimento da singularidade de cada pessoa contra todas as formas de massificação. Outras, exigimos sistemas de vigilância e segurança que não permitam a preparação e o desenvolvimento de programas de destruição, como o realizado na Noruega. A sabedoria das nações ainda não consegue compaginar esta dupla exigência e, também, não pode prescindir de a procurar simultaneamente.


Não há soluções definitivas. Não se pode impor a ninguém que se torne o guarda da dignidade do outro. Já conhecemos, no entanto, a diferença entre os frutos da cultura do ódio e da cultura do amor. Até Setembro. "

Textos de Frei Bento Domingues

Site Triplov - Frei Bento

quinta-feira, 28 de julho de 2011

A revolta dos banqueiros



A revolta dos banqueiros
Nos últimos dias assistimos ao impensável: o esboço de um conflito entre o Banco de Portugal e a troika, por um lado, e o clube de banqueiros, por outro, com o governo algures no meio. A linguagem ‘subversiva’ utilizada pelos banqueiros era no mínimo inabitual. O que está a acontecer?

no Blog Ladrões de Bicicletas

Luta de classes; no blog Ladrões de bicicletas





«Os 25 mais ricos de Portugal aumentaram fortunas para 17,4 mil milhões».
Num país em que a população em risco de pobreza era de 18% em 2009 (valor que ascenderia a 43,4% caso o rendimento das familias e dos cidadãos deixasse de contar com o impacto atenuante das transferências sociais, de acordo com o mais recente inquérito às Condições de Vida e Rendimento, do INE).
Num país em que os sacrifícios austeritários recaem esmagadoramente sobre o factor trabalho.

No Blog Ladrões de Bicicletas

sábado, 23 de julho de 2011

Ouro para Portugal, nas Olimpiadas da Matemática


PARABÉNS MIGUEL SANTOS

Grande Campeão
E ainda dissem que ....
Não somos bons....

Expresso -Blog da SPM

Portugal obtém melhor resultado de sempre nas Olimpíadas Internacionais de Matemática

É um feito verdadeiramente excepcional. Miguel Martins dos Santos, 16 anos, arrecadou a primeira medalha de ouro da história da participação portuguesa nas Olimpíadas Internacionais de Matemática (IMO), que estão a decorrer na Holanda. Miguel Santos obteve um resultado extraordinário numa competição que conta com a participação de 574 estudantes vindos de mais de uma centena de países.

Ler mais:
http://aeiou.expresso.pt/portugal-obtem-melhor-resultado-de-sempre-nas-olimpiadas-internacionais-de-matematica=f663582#ixzz1SwNDZtEa

Correio da Manhã

Ler mais:
http://aeiou.expresso.pt/portugal-obtem-melhor-resultado-de-sempre-nas-olimpiadas-internacionais-de-matematica=f663582#ixzz1SwMvnZUa

Matemática dá ouro a Portugal

Foi o melhor resultado individual de sempre nas Olimpíadas Internacionais de Matemática. Miguel Santos, 16 anos, conquistou ontem uma medalha de ouro, em Amesterdão, Holanda, um feito inédito para a selecção nacional.

sábado, 9 de julho de 2011

Portugal , Jorge Sousa Braga

Portugal


Portugal
Eu tenho vinte e dois anos e tu às vezes fazes-me sentir como se tivesse oitocentos
Que culpa tive eu que D. Sebastião fosse combater os infiéis ao norte de África
só porque não podia combater a doença que lhe atacava os órgãos genitais e nunca mais voltasse
Quase chego a pensar que é tudo uma mentira
que o Infante D. Henrique foi uma invenção do Walt Disney
e o Nuno Álvares Pereira uma reles imitação do Príncipe Valente

Portugal
Não imaginas o tesão que sinto quando ouço o hino nacional (que os meus egrégios avós me perdoem)
Ontem estive a jogar póker com o velho do Restelo
Anda na consulta externa do Júlio de Matos
Deram-lhe uns electro-choques e está a recuperar
aparte o facto de agora me tentar convencer que nos espera um futuro de rosas

Portugal
Um dia fechei-me no Mosteiro dos Jerónimos a ver se contraía a febre do Império
mas a única coisa que consegui apanhar foi um resfriado
Virei a Torre do Tombo do avesso sem lograr uma pérola que fosse das rosas que Gil Eanes trouxe do Bojador

Portugal
Vou contar-te uma coisa que nunca contei a ninguém
Sabes
Estou loucamente apaixonado por ti
Pergunto a mim mesmo
Como me pude apaixonar por um velho decrépito e idiota como tu mas que tem o coração doce ainda mais doce que os pastéis de Tentúgal
e o corpo cheio de pontos negros para poder espremer à minha vontade

Portugal
Estás a ouvir-me?
Eu nasci em mil novecentos e cinquenta e sete
Salazar estava no poder - nada de ressentimentos
Um dia bebi vinagre - nada de ressentimentos

Portugal
Sabes de que cor são os meus olhos?
São castanhos como os da minha mãe

Portugal
Gostava de te beijar muito apaixonadamente
na boca


Jorge Sousa Braga

No Blog O Cheiro da Ilha

sexta-feira, 1 de julho de 2011

"um amor", Nuno Júdice

Um amor


Aproximei-me de ti; e tu, pegando-me na mão.
puxaste-me para os teus olhos
transparentes como o fundo do mar para os afogados. Depois, na rua,
ainda apanhámos o crepúsculo.
As luzes acendiam-se nos autocarros; um ar
diferente inundava a cidade. Sentei-me
nos degraus, do cais, em silêncio.
Lembro-me do som dos teus passos,
uma respiração apressada, ou um princípio de lágrimas,
e a tua figura luminosa atravessando a praça
até desaparecer. Ainda ali fiquei algum tempo, isto é,
o tempo suficiente para me aperceber de que, sem estares ali,
continuavas ao meu lado. E ainda hoje me acompanha
essa doente sensação que
me deixaste como amada
recordação.

Nuno Júdice

No blog Webclub

domingo, 26 de junho de 2011

PIGS e infecciosos



Feios, PIGS e infecciosos



2011-06-03


Afinal a bactéria que tem andado a infectar e matar alemães e viajantes chegados do Norte da Alemanha é, revelou a Organização Mundial de Saúde, uma nova estirpe da familiar "escherichia coli". Os pepinos espanhóis (desta vez a coisa demorou menos tempo a apurar do que sucedeu no caso do incêndio do Reichstag) foram só o bode expiatório das autoridades alemãs.

Um bode expiatório, como os comunistas em 1933, perfeitamente credível para o alemão comum, já que a Espanha é, com Portugal, Irlanda e Grécia, um dos tenebrosos PIGS, os países feios, porcos, maus, preguiçosos e gastadores da periferia do "lebenraum" comunitário da senhora Merkel cujos problemas a impecavelmente asseada Banca alemã "ajuda" a resolver a generosos juros usurários enquanto se ajuda não menos generosamente a si mesma.

Países que não sabem governar-se e que, por isso, tem que ser a sempre esforçada Alemanha, por interposta UE, a governá-los e, como na Grécia, a cobrar-lhes os impostos e encarregar-se da privatização das suas empresas e serviços públicos (e a altura chegará em que os próprios governos dos países "ajudados" terão que ter o "agreement" do chanceler de serviço em Berlim).

A declaração de inocência dos pepinos PIGS faz supor que - disse-o à BBC Reinhard Burger, presidente do Instituto Koch - possa nunca vir a ser descoberta a origem do surto infeccioso. Principalmente se a origem for, digo eu, a carne alemã.

Manuel António Pina


crónica JN - Jornal de Noticias

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Comentário ao Post anterior

PRCEC

Porra, ainda não têm o poder nas mãos e já nos estão a F...!!!

domingo, 19 de junho de 2011

Um Novo PRCEC ??

No Blog Arrastão , li e tirei o seguinte texto...
de Miguel Cardina

A SEDES tem um núcleo jovem. Um oxímoro que se prestaria a algumas graças. Mas deixemos por agora isso, uma vez que o texto que o grupo decidiu divulgar - uma Carta Aberta aos Decisores Políticos e Parceiros Sociais - dá-nos um retrato preocupante daquilo que são as novas elites tecnocráticas emergentes, agora com espaço político para poderem vingar. Como já se esperava, o documento está cheio de arremessos retóricos típicos da escola medina-carreirista: contra a "gordura" do Estado, contra a "politiquice" reinante, por uma "relação construtiva entre quem governa e quem é governado". Para que cada macaco fique o seu galho e se proceda à necessária lipoaspiração, os jovens sediciosos apelam a "amplos consensos" que têm como alvo - et voilá! - a Constituição. Falam mesmo de um "processo de Revisão Constitucional agora em curso".

Talvez negociações profundas se estejam a passar debaixo do pano e longe do olhar dos cidadãos que justifiquem este "em curso". Talvez seja isso mesmo a tal "relação construtiva entre quem governa e quem é governado": vivamos despreocupados a nossa vida porque um conjunto de gente séria e informada nos está a tratar da vidinha. Ou então é apenas furor ideológico que confunde a realidade presente com um futuro apetecível.
Ai estes jovens...

"Momento", poema

Momento


Chegado o momento
em que tudo é tudo
dos teus pés ao ventre
das ancas à nuca
ouve-se a torrente
de um rio confuso
Levanta-se o vento
Comparece a lua
Entre linguas e dentes
este sol nocturno
Nos teus quatro membros
de curvos arbustos
lavra um só incêndio
que se torna muitos
Cadente silêncio
sob o que murmuras
Por fora por dentro
do bosque do púbis
crepitam-me os dedos
tocando alaúde
nas cordas dos nervos
a que te reduzes
Assim o momento
em que tudo é tudo
Mais concretamente
água fogo música.

David Mourão-Ferreira

no Blog WebClub

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Freud mora no 1º Esquerdo - Conhecer Miguel Bombarda -TSF

Hospital Miguel Bombarda
encerrou no Domingo

Um pouco da sua história contada na TSF

Ouvir aqui no LINK
http://www.tsf.pt/PaginaInicial/Vida/Interior.aspx?content_id=1849329

Reportagem na TSF
Um trabalho da jornalista Ana Catarina Santos



Foto no Blog De Rerum Natura



Link - De Rerum Natura: Sobre Miguel Bombarda

Manifestação Protesto







"CANTIGUEIRO": Não ao “acordo”! Não ao roubo!


19 de Maio :: Manifestação CGTP :: Contra o FMI


"O tempo é de combate a silêncios e medos e de forte afirmação de protesto.
O tempo que vivemos exige grande esforço de unidade entre os trabalhadores, forte unidade sindical em torno de conteúdos concretos que interessam a todos e ao país, alianças sociais amplas e dinâmicas.
....

É por estas exigências e contra as medidas que nos querem impor que convocamos os trabalhadores e as trabalhadoras, os jovens, os pensionistas e reformados, para uma ampla participação nas duas grandes manifestações que vamos realizar no dia 19 de Maio, em Lisboa e no Porto, contra a ingerência da UE e do FMI e por um novo rumo para o país.

Lutamos, exactamente, porque sabemos que outro rumo é possível!
Lutamos por todos, mas em particular pelas jovens gerações e por um Portugal melhor."

Manifesto CGTP

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Feira do Livro dia 3 - Miguel Unamuno



No Pavilhão da Babel, descobri um pequeno texto de Miguel Unamuno sobre Portugal do inicio do Seculo XX.
O título é "Os Portugueses, um Povo Suicida" , que me despertou interesse.

Eis aqui um texto que encontrei num Blog de quem já o leu.

Do Blog As Margens do Rio

Portugal país de suicidas - Miguel Unamuno

Miguel de Unamuno foi uma das mais ilustres figuras da literatura e da cultura de Espanha do Século XIX e XX. Nasceu em Bilbau em 29 de Setembro de 1864 e foi nomeado reitor da Universidade de Salamanca em 1900.

Teve estreitas relações com os maiores intelectuais portugueses da época, Guerra Junqueiro, Teixeira de Pascoaes, Eugénio de Castro, Manuel Laranjeira e Fidelino de Figueiredo.

Em 1907 esteve em Amarante e escreveu páginas notáveis sobre a Vila e Pascoaes.

No seu livro "Por Tierras de Portugal y España" integra o ensaio intitulado "Un pueblo suicida", escrito em Lisboa em 1908.

Para Unamuno, Portugal é um país de suicidas não porque se suicidaram alguns dos nossos maiores escritores (Antero e Camilo, nomeadamente) mas porque deixou de olhar para o futuro, de ter um verdadeiro ideal nacional.


Para Unamuno, o povo português, meigo na aparência, era, no seu íntimo, violento e apaixonado. A sua condenação à inércia metamorfoseava-se em impulso suicida:


"A paixão trá-lo à vida, e a própria paixão, consumido o seu alimento, leva-o à morte. Hoje o que lhe resta? Dentro de uns dias, em 1 de Dezembro, celebrar-se-ão as festas da restauração da sua nacionalidade, de ter sacudido a soberania dos Filipes da Espanha. No dia seguinte voltarão a falar de bancarrota e de intervenção estrangeira. Pobre Portugal!"


Neste últimos dias tenho-me lembrado muito destes escritos embora o retrato de Amarante seja bem mais interessante.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Petição convergência nacional em torno do emprego e da coesão social



Petição convergência nacional em torno do emprego e da coesão social

Para:Poderes Públicos


Num momento dramático como o que vivemos, a sociedade portuguesa precisa de debate e de convergências democráticas. Precisa também de reconhecer que a crise do liberalismo económico, de que a acção dos programas patrocinados pelo FMI tem sido uma expressão, obriga a reavaliar opiniões e prioridades e a construir soluções novas, assentes em ideias e escolhas claras e num programa explícito, sabendo que na democracia nunca há a inevitabilidade de uma escolha única, porque a democracia procura as melhores soluções da forma mais exigente.

É indiscutível que o estado das finanças públicas, que é em grande medida o resultado da profunda crise económica, exige um conhecimento e avaliação exigentes de todos os compromissos públicos. E que se torna urgente identificar a despesa pública desnecessária, supérflua e geradora de injustiças sociais, distinguindo-a da que é indispensável, colmata problemas sociais graves e qualifica o país.É também útil que se reconheça a importância do trabalho, dos salários e dos apoios sociais na sociedade portuguesa, se admita a presença de carências profundas, sob a forma de pobreza e de desigualdades crescentes, e se considere que os progressos alcançados na nossa sociedade são o resultado da presença de mecanismos de negociação colectiva e de solidariedade cujo desmantelamento pode significar uma regressão socioeconómica que debilitará o país por muito tempo.



(...Continua)



Ler e Assinar a Petição - Clickar AQUI


Ou no Blog Ladrões de Bicicletas

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Ajuda de Todos os Santos; Lusitânia , poema de António Nobre

Lusitânia no Bairro Latino

2


Georges! anda ver meu país de Marinheiros,
O meu país das naus, de esquadras e de frotas!
Oh as lanchas dos poveiros
A saírem a barra, entre ondas de gaivotas!

Que estranho é!
Fincam o remo na água, até que o remo torça,
À espera de maré,
Que não tarda aí,
avista-se lá fora!
E quando a onda vem,
fincando-a com toda a forca,
Clamam todas à urra: «Agora! agora! agora!»

E, a pouco e pouco, as lanchas vão saindo
(Às vezes, sabe Deus, para não mais entrar...)

Que vista admirável! Que lindo! Que lindo!
Içam a vela, quando já têm mar:
Dá-lhes o Vento e todas, à porfia,
Lá vão soberbas,
sob um céu sem manchas,
Rosário de velas, que o vento desfia,
A rezar, a rezar a Ladainha das Lanchas:
Senhora Nagonia! Olha acolá!

Que linda vai com seu erro de ortografia...
Quem me dera ir lá! Senhora Daguarda!
(Ao leme vai o Mestre Zé da Leonor)
Parece uma gaivota: aponta-lhe a espingarda O caçador!
Senhora d'ajuda!
Ora pro nobis!
Caluda!
Semos probes!

Senhor dos ramos
Istrela do mar! Cá bamos!
Parecem Nossa Senhora, a andar.
Senhora da Luz!
Parece o Farol...

Maim de Jesus! É tal e qual ela, se lhe dá o sol!
Senhor dos Passos!
Sinhora da Ora!
Águias a voar, pelo mar dentro dos espaços

Parecem ermidas caiadas por fora...
Senhor dos Navegantes!
Senhor de Matosinhos!
Os mestres ainda são os mesmos dantes
- Lá vai o Bernardo da Silva do Mar,
A mailos quatro filhinhos,
Vasco da Gama, que andam a ensaiar...
Senhora dos aflitos!
Mártir São Sebastião!
Ouvi os nossos gritos!
Deus nos leve pela mão!
Bamos em paz!

O lanchas, Deus vos leve pela mão!
Ide em paz! Ainda lá vejo o Zé da Clara,
os Remelgados, O Jeques, o Pardal, na Nam te perdes,
E das vagas, aos ritmos cadenciados,
As lanchas vão traçando, à flor das águas verdes,
«As armas e os varões assinalados...»

Lá sai a derradeira!
Ainda agarra as que vão na dianteira,..
Como ela corre! com que força o Vento a impele:
Bamos com Deus!
Lanchas, ide com Deus! ide e voltai com Ele
Por esse mar de Cristo...
Adeus! adeus! adeus!
António Nobre


quinta-feira, 31 de março de 2011

Ler em todo Lado, Bibliotecas de Lisboa; Poema de António Nobre(1)



Ler em Todo o Lado
Sábado 2 Abril - Dia Internacional do Livro Infantil
Feira do Livro Infantil (Lgo Camões)
Chapéus Narradores (Lgo Camões, 11h)
Cordão Humano de Leitura (Lgo Chiado, 15h)
El Posador (Lgo Camões, 16:30)
Sábado 23 Abril - Dia Mundial do Livro
Sant Jordi, a festa dos Livros (Lgo S. Pedro de Alcântara , 12 h)

Bibliotecas Municipais de Lisboa

Lusitânia no bairro latino
1



.............................................. Só!
Ai do Lusíada, coitado,
Que vem de tão longe, coberto de pó,
Que não ama , nem é amado,
Lúgubre Outono, no mês d' Abril!
Que triste foi o seu fado!
Antes fosse pra soldado,
Antes fosse prò Brasil...


Menino e moço, tive uma Torre de leite,
Torre sem par!
Oliveiras que davam azeite,
Searas que davam linho de fiar,
Moinhos de vela, como latinas,
Que São Lourenço fazia andar...
Formosas cabras, ainda pequeninas,
E loiras vacas de maternas ancas
Que me davam o leite de manhã,
Lindo rebanho de ovelhas brancas;
Meus bibes eram de sua lã.

........

Menino e moço, tive uma Torre de leite,
Torre sem par!
Oliveiras que davam azeite...

Um dia, os castelos caíram do Ar!
As oliveiras secaram,
Morreram as vacas, perdi as ovelhas,
Saíram-me os Ladrões, só me deixaram
As velas do moinho... mas rotas e velhas!
Que triste fado!
Antes fosse aleijadinho,
Antes doido, antes cego...

Ai do Lusíada, coitado!

(continua...
Aqui Tripov - António Nobre)

Poema de António Nobre

quarta-feira, 30 de março de 2011

Todas as palavras, poema

TODAS AS PALAVRAS

As que procurei em vão,
principalmente as que estiveram muito perto,
como uma respiração,
e não reconheci,
ou desistiram e
partiram para sempre,
deixando no poema uma espécie de mágoa
como uma marca de água impresente;
as que (lembras-te?) não fui capaz de dizer-te
nem foram capazes de dizer-me;
as que calei por serem muito cedo,
as que calei por serem muito tarde,
e agora, sem tempo, me ardem;
as que troquei por outras (como poderei
esquecê-las desprendendo-se longamente de mim?);
as que perdi, verbos e
substantivos de que
por um momento foi feito o mundo.
E também aquelas que ficaram,
por cansaço, por inércia, por acaso,
e com quem agora, como velhos amantes sem
desejo, desfio memórias,
as minhas últimas palavras.

Manuel António Pina
Jornalista e escritor português
(Poesia Reunida)

no Blog Fel de cão

segunda-feira, 21 de março de 2011

Poema, Nuno Júdice


Use o poema para elaborar uma estratégia
de sobrevivência no mapa da sua vida. Recorra
aos dispositivos da imagem, sabendo que
ela lhe dará um acesso rápido aos recursos
da sua alma. Evite os atolamentos
da tristeza, e acenda a luz que lhe irá trazer
uma futura manhã quando o seu tempo
se estiver a esgotar. Se precisar de
substituir os sentimentos cansados
da existência, reinstale o desejo
no painel do corpo, e imprima os sentidos
em cada nova palavra. Não precisa
de dominar todos os requisitos do sistema:
limite-se a avançar pelo visor da memória,
procurando a ajuda que lhe permita sair
do bloqueio. Escolha uma superfície
plana: e deslize o seu olhar pelo
estuário da estrofe, para que ele empurre
a corrente das emoções até à foz. Verifique
então se todas as opções estão disponíveis: e
descubra a data e a hora em que o sonho
se converte em realidade, para que poema
e vida coincidam.

Nuno Júdice
,
“Guia de Conceitos Básicos”,

No site http://www.esfmp.pt/biblioteca/poema-e-vida


LN

domingo, 20 de março de 2011

Poema Nuno Júdice

NATUREZA MORTA COM MARX

As mulheres que traziam a fruta nos cestos, e
os pousavam no chão de pedra, em frente das casas,
para que as senhoras a pudessem escolher, só
sabiam o que era a luta de classes quando ouviam
discutir os preços que elas davam, e ou baixavam
ou não vendiam. Mas quando voltavam para o campo,
com os cestos mais do que vazios, pensavam noutras
coisas: no que as esperava nas casas onde
a doença entrava com o inverno, e no que poderia
acontecer se não chovesse, e as árvores secassem
de um ano para o outro. Nas casas das senhoras,
porém, o cesto de frura, em cima da mesa,
não fala destas coisas. E quando alguém ia tirar
as uvas, para as provar, o sabor nada tinha de amargo,
a não ser que, num breve instante, a imagem
das mãos que as apanharam, naquela madrugada,
não voltasse a trazer a ideia de luta
de classes para dentro do cesto.

Nuno Júdice

No Blog Sine Die Luta de classes: Grécia, o nosso PEC e um poema de Nuno Júdice
LN

domingo, 20 de fevereiro de 2011

"Canta"; Joaquim Pessoa

CANTA

Atreve-te a julgar. Julga os outros julgando-te a ti mesmo.
A natureza das coisas é a tua natureza. Respira-te, despe-te,
faz amor com as tuas convicções, não te limites a sorrir
quando não sabes mais o que dizer. Os teus dentes
estão lavados, as tuas mãos são amáveis, mas falta-te
decisão nos passos e firmeza nos gestos.
Procura-te. Tenta encontrar-te antes que te agarre a
voracidade do tempo.
Faz as coisas com paixão. Uma paixão irrequieta,
que não te dê descanso
e te faça doer a respiração. Aspira o ar, bebe-o com força, é
teu, nem um cêntimo pagarás por ele.
Quanto deves é à vida, o que deves é a ti mesmo. Canta.
Canta a água e a montanha e o pescoço do rio,
e o beijo que deste e o beijo que darás, canta
o trabalho doce da abelha e a paciência com que crescem
as árvores,
canta cada momento que partilhas com amigos, e cada amigo
como um astro que desponta no firmamento breve do teu corpo.
E canta o amor. E canta tudo o que tiveres razão para cantar.
E o que não souberes e o que não entenderes, canta.
Não fujas da alegria. A própria dor ajuda-te a medir
a felicidade. Carrega nos teus ombros os séculos passados e
os séculos vindouros,
muito do pó que sacodes já foi vida,
talvez beleza, orgulho, pedaços de prazer.
A estrela que contemplas talvez já não exista, quem sabe,
o que te ajudou a ser vida de quantas vidas precisou. Canta!
Se sentires medo, canta. Mas se em ti não couber a alegria,
não pares de cantar.
Canta. Canta. Canta. Canta. Canta. Constrói o teu amor,
vive o teu amor,
ama o teu amor. De tudo o que as pessoas querem, o que
mais querem é o amor.
Sem ele, nada nunca foi igual, nada é igual, nada será igual
alguma vez.
Canta. Enquanto esperas, canta.
Canta quando não quiseres esperar.
Canta se não encontrares mais esperança. E canta quando a
esperança te encontrar.
Canta porque te apetece cantar e porque gostas de cantar e
porque sentes que é preciso cantar.
E canta quando já não for preciso. Canta porque és livre.
E canta se te falta a liberdade.

Joaquim Pessoa

No Blog O Cheiro da Ilha
LN