sexta-feira, 21 de novembro de 2008

OBEDECER, DIZ ELE

MANUEL ANTÓNIO PINA

Vem isto a propósito do ex-embaixador Hall Themido ter vindo, em livro recente, a reescrever a acção de Aristides Sousa Mendes no salvamento de judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Na história de Hall Themido, Salazar fez o que devia ao demitir o cônsul, sendo «incompreensível criticar» o Ministério dos Negócios Estrangeiros, «incluindo o ministro, por ter aplicado a lei nas circunstâncias da época». Aristides Sousa Mendes foi punido pela sua «actuação irregular» ao conceder vistos (como se sabe «irregulares») a judeus em fuga à barbárie nazi, pois era necessário «manter disciplina nos serviços que de forma directa ou indirecta pudessem, com a sua actuação, afectar o estatuto de neutralidade» do país.

Para Hall Themido, relevante na actividade de Aristides Sousa Mendes enquanto cônsul em Bordéus não foi ter sacrificado a carreira a salvar gente dos campos de extreminio, mas o facto (provavelmente também «histórico») de o processo disciplinar de que foi alvo ter sido «o último de vários [...] ao longo da carreira».

Segundo o ex-embaixador, Sousa Mendes é «um mito criado por judeus»(onde é que eu já ouvi algo parecido sobre Auschwitz?), e é «totalmente irrealista» falar-se em trinta mil vistos «concedidos em apenas alguns poucos dias pelo cônsul e seus familiares, de forma cega, no consulado e até nos cafés da vizinhança»(onde é que já ouvi algo parecido sobre os números do Holocausto?).

Talvez , com efeito, trinta mil seja um número redondo de mais. Talvez Sousa Mendes tenha, desobedecendo a Salazar, salvo apenas 29999 judeus. Ou talvez, quem sabe? , tenha sido apenas um. A dimensão ética da sua desobediência e do sacrifício a que por isso , se expôs não depende do número de pessoas que terá salvo.

Mesmo que, para outros, devesse ter seguido a ética(chamemos-lhe assim) da obediência e cuidado da própria carreira, deixando os judeus que lhe pediam auxílio ir (azar deles) para as câmaras de gáz.


Ao contrário de Sousa Mendes, Hall Themido teve uma longa carreira cumprindo ordens (onde é que também já ouvi isto?) , quer sobre o fascismo quer depois do 25 de Abril. «Manda quem pode e obedece quem deve» e, por isso, nunca lhe terá passado pela cabeça desobedecer aos superiores, fossem quem fossem e ordenassem o que ordenassem. E, na sua hierarquia de valores, não há, pelos vistos, nada «superior», nem as leis dos homens nem a lei de Deus, ao seu ministro.


no Notícias Magazine (DN, 16 Novembro 2008)


Aristides de Sousa Mendes é um dos Portugueses que mais orgulham o Nosso país nos últimos séculos. É um orgulho ter concidadãos que agem com uma grande verticalidade. São um exemplo e um símbolo de homem bom!

Os Idiotas dos Portugueses que elegeram num concurso de TV a personalidade de Salazar como o Português do Século vinte, mostram que este país ainda tem uma mentalidade tacanha e mediocre, exactamente como essa Sinistra Ministra da Educação!
LN

Sem comentários: