"DE Viva Voz" , Antologia poesia portuguesa contemporânea
GRATIDÃO QIE NEM SABE
A QUEM DEVE SER GRATA
Não, Não o faço por tristeza
nem superstição.
Cada noite
assinalo na parede do tempo.
Presidiário
que não deseja o último dia.
Apenas por te ouvir e amar,
pura volúpia, gratidão de ser.
Gratidão de ser
por estes anos
e partículas restantes.
Pela amizade,
que chega a confundir o amor.
Pela bondade,
que torna a solidão desvalida.
Pela hombridade,
à altura do céu.
Pela beleza,
que só à santidade
sobrepassa.
E é flagrante, perdulária,
noutros renascente.
Gratidão
que nem sabe
a quem deve ser grata.
Pelas aves nutrindo os filhos
de penugem e voo.
Pela lentidão escrupulosa
da tartaruga, igual à de Plutão.
Pela leveza materna do vento
transportando pólen.
Pelo calor humílimo
da joaninha sobre a nossa mão.
E por estar na terra
uma só vez, ao sol,
nada pedindo, nenhum segredo,
como um velho lobo-do-mar.
António Osório
LN
quinta-feira, 29 de abril de 2010
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