terça-feira, 27 de abril de 2010

Entrevista Com Jerónimo de Sousa


Governo merecia uma mocao de censura (COM VIDEO)

Grande entrevista do Jerónimo de Sousa ,
que boas perguntas que fizeram os jornalistas do Correio da manhã.
Vale a pena ler a entrevista toda.
Aqui ficam os excertos que mais me interessaram.


ARF – As previsões apontam para um agravamento do desemprego para 11 % e um crescimento económico de 0,3 %. Mas todos os responsáveis políticos falam em estabilidade, na necessidade deste PEC, porque não há alternativa. Todos unidos, portanto. Mas unidos a caminho de quê? Já não digo da Grécia. Mas a caminho de quê?

- Essa é a questão central. Tendo em conta a prova provada de que este caminho leva-nos ao desastre, o Governo, quase de joelhos, aceitando as normas draconianas do directório das potências da União Europeia, abdica do investimento, de certa forma do mercado interno e aposta tudo nas exportações.

ARF - É a única aposta.

- Muito bem. Estamos todos de acordo. Mas há outros motores da economia. Designadamente o mercado interno, com o aumento do consumo.

ARF – Mas já desistiram disso.

- A realidade do nosso tecido produtivo tem muito a ver com o mercado interno. São centenas de milhares de pequenas e médias empresas que vivem desse mercado. Se reduzem os rendimentos de quem trabalha o resultado não vai ser bom. E por isso nós pensamos que é preciso uma ruptura com esta política. Não podemos ficar dependentes do que diz a União Europeia.

ARF - Mesmo na redução do défice?

- Sim. Querem uma redução para 3 % até 2013. E eu pergunto: porque 3 e não 4 %. Qual é a lei que determina isto? Eu não estou a descobrir a pólvora. Mas eu sinto que as medidas que estão no PEC é pouco o navegar à vista, tapar buracos.

ARF - Olhando o PEC, mesmo com previsões optimistas do Governo, em 2013 o crescimento é de 1,7 %. O que é isto em termos de desemprego, por exemplo?

- É um elemento objectivo. Está previsto que o nosso crescimento vai ser inferior à média europeia.

ARF – Em todos estes anos.

- E vai continuar. E não há bruxas. Bem pode o senhor ministro das Finanças dizer que temos de confiar nas estrelas. Nós temos é de olhar para a realidade e verificar que se não há crescimento, se não há aumento da riqueza, obviamente o desemprego vai aumentar. Tem um efeito tremendo nas nossas vidas.

ARF – Nos mais novos, nos mais velhos. Nos mais novos o desemprego já é de 21 %

- E os últimos dados estatísticos mostram que os despedimentos atingiram sobretudo mulheres. Cerca de 60 %. Mas sublinhou os jovens e bem. Nós temos um problema sério, porque ser jovem não é um estatuto permanente. Estão agora a alicerçar o seu futuro. Neste quadro é dramático verificar o nível de desemprego e o facto de existirem cerca de um milhão e 200 mil trabalhadores com vínculos precários, na sua maioria jovens.

ARF - É uma situação dramática.

- Olhando para esta perspectiva, não é preciso ser um revolucionário para sentirmos uma apreensão profunda. Para todos, mas essencialmente para as novas gerações.

ARF – Eu digo isto porque agora não há eleições. Quando há todos temem perder votos. Os professores saem à rua e o Governo tenta emendar a mão. Mas agora não. Acha que vão ser sensíveis aos protestos? E muitas pessoas também dizem que já não vale a pena.

- Também sei que há pessoas que quase delegam a luta no PCP. E questionam-se se vale a pena. E isso acontece pela forma como o Governo entende o protesto, o descontentamento e a própria luta. De facto, é insensível a isso. Mas em certos momentos da história também outros governantes foram indiferentes e acabaram por ser derrotados. No meu partido costumamos dizer que quando se luta nem sempre se ganha. Mas quando não se luta perde-se sempre.

ARF – Vamos ter luta a sério?

- Um protesto e uma luta por uma nova política. Isto não vai com remendos.


ARF – Mas olhe para o PEC. Todos percebemos que aqueles números são desgraçados. Chegamos a 2013 e estaremos mais pobres. Mas o Presidente diz que o PEC é bom, o CDS vota contra mas fala no interesse nacional, o PSD faz uns remendos mas não rompe com o PEC. Afinal, todos estão resignados à pobreza? É um desastre?

- Permita-me uma observação. Nós estamos em tempo em que o Presidente da República podia accionar os mecanismos constitucionais para pôr em causa o Governo, um Governo sem maioria absoluta, sujeito ao escrutínio do Parlamento.


ND – Uma frente de esquerda seria uma boa solução para o País? Até como contraponto a uma AD?

- Eu acho que não há condições neste momento para uma concepção frentista na medida em que o problema chama-se PS.

ARF – O PS é um problema para o País neste momento?

- Sim. Persiste em afirmar-se de esquerda mas naquilo que é central pratica uma política de direita, o que é frustrante para muitos homens e mulheres de esquerda que votaram no PS.

ARF – Voltando a PEC. Com as perspectivas para 2013, não é o próprio estado social que está em risco?

- Sim, está em risco.

ARF – Onde é que há receitas para sustentar o actual estado social?

- Por ordem decrescente de preocupações eu punha em primeiro lugar a saúde. E digo a saúde porque é uma área de grande apetência por parte dos grupos económicos. E há milhões de portugueses que precisam desse estado social, em particular do Serviço Nacional de Saúde. E há o risco de esses milhões, com estas políticas, ficarem sem apoios. Com estas políticas nós estamos condenados à demolição do estado social.

LN

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