quarta-feira, 11 de abril de 2012
é do CARALHO
Não deve haver na língua portuguesa uma palavra com um conceito tão abrangente como o caralho. É o termo de comparação mais lato que existe.
Uma coisa que alguém pode ser grande ou pequeno como o caralho, feio ou bonito, leve ou pesado, muito ou pouco, quente ou frio, perto ou longe... enfim, tudo é mensurável através do caralho. Para além das suas características físicas, o caralho também tem uma expressão metafísica: é o próprio inferno, lugar subterrâneo onde habitam as almas dos mortos.
Quando alguém menos vistoso morre , alguma coisa se destrói ou extravia, foi para o caralho; queremos mal a alguém, para onde o mandamos? O diabo, o próprio senhor dos infernos, pode ser o caralho. Não é por acaso que o diabo é tradicionalmente representado com um caralho pendurado e é conotado com a ira, o materialismo, a tentação e a paixão. Há, no entanto, uma variante mais leve, não implicando uma pena tão pesada, que é conhecida como o caraças. O caraças é o actual substituto do purgatório já caído em desuso até pela própria igreja. É um estado ou lugar em que as almas dos justos (e acrescento também todas as coisas vivas ou inanimadas) saídas deste mundo sem terem expiado completamente as suas faltas, acabam de expiá-las para serem admitidas na bem-aventurança (dicionário de Cândido Figueiredo pág 1139). Por exemplo , mandar alguém para o caraças implica que ele voltará mais puro depois de ter pago pelo seu erro. O caralho está omnipresente na nossa existência e, tal como o diabo, é o maior rival da autoridade divina. Há muitos anos na Rádio Renascença havia um jornalista que ia relatando um jogo de futebol extremamente emotivo, sem conseguir disfarçar a sua parcialidade em relação a uma das equipas. A dada altura, numa magistral manobra de ataque a bola é colocada nos pés do «seu» avançado que, depois de ter fintado o guarda-redes, fica somente com a baliza escancarada à sua frente. Tinha chegado o momento do auge e para isso bastava empurrar a bola para dentro da baliza. Completamente esbaforido com o calor da emoção , o relatador levantava-se num súbito impulso para gritar o que seria óbvio, quando inacreditavelmente o avançado atira a bola por cima da barra com um pontapé estúpido... O relatador, ainda incrédulo e completamente fora de si, pergunta para o ar, vezes sem conta, como é possível falhar aquele golo, até que conclui desanimado:
- É do caralho senhores ouvintes...
Claro que foi mandado embora no próprio dia. O que é que os senhores leitores pensam disto ... É, não é?
Livro Crónicas do futuro
João Melo
BLOG de continuação do Livro
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