quinta-feira, 6 de maio de 2010

Parem tudo que o PAPA vem ai...(1)

"Provas e três Parábolas " - George Steiner -Editado pela Gradiva

Excerto de uma conversa
Um zumbir como de abelhas, distante.
- Mas o Mestre, Eleazar filho de Eleazar, no seu comentário de 1611, disse...
- Que Akhiba, que o seu nome brilhe na eterna glória, se enganara...
- Quando escreveu que Abraão era inteiramente livre, um homem em liberdade , o pai das liberdades, quando Deus, bendito seja o Seu Nome indizível, o chamou para que levasse o rapaz, Isaac, ao lugar do holocausto.
- Com isto queria Akhiba dizer que os mandamentos de Deus são ditos ao espírito do homem quando o seu espírito goza da condição de soberania sobre a sua própria vontade, e que os mandamentos que se dirigissem aos que foram feitos escravos ou se extraviaram seriam mandamentos ocos.
- Ao que Eleazar, filho de Eleazar, o de Cracóvia , retorquiu...
- «Que liberdade é a do homem perante o que ordena o Todo-Poderoso?» Quando Ele manda, a nossa liberdade é a obediência. Só o servo de Deus, o servo absoluto, é um homem livre.
- «Não é assim» , foi o que me disse Baruch, o de Vilnius. «Não é assim, Quando Deus ordenou a Abraão, nosso pai, que levasse Isaac, seu filho unigénito, ao Monte Moriah, parou à espera de uma resposta. Abraão poderia ter dito: ' Não.' Ele poderia ter dito: 'Deus Todo-Poderoso, santificado seja o Teu Nome. Estás a tentar-me. Estás a pôr no meu trilho a tentação suprema, que é a obediência cega e irreflectida. Tal é a obediência que reclamam o Dragão Baal, os deuses ocos com cabeça de cão dos templos egípcios. Tu não és Moloque, devorador de crianças. O que agora esperas de mim é uma recusa amorosa.» Assim disse Baruch , meu mestre.
- Houve três dias de jornada a caminho da montanha. Durante esses dias Abraão não falou a Isaac...
- Nem a Deus. Que continuava atentamente à escuta. À espera de ouvir a resposta: «Não.» Cuja paciência era infinita, e que estava entristecido. Eis o que ensina Baruch, na nossa schul de Vilnius, onde a amendoeira...
- Isso é insensato. A presciência de Deus é absoluta. À escuta de Abraão , Ele! Sabia que o Seu mandamento seria obedecido, que não cabia ao homem pô-lo em questão. Eu conheci Baruch, o teu mestre. Era tão subtil, que nas suas mãos as palavras tornavam-se areia.
- Mas Deus, bendita seja a fímbria do Seu Nome inefável e as vestes do fogo da Sua glória, não confiava inteiramente em Abraão.
- Outro louco.
- Não . Escuta-me. A confiança de Deus em Abraão não era completa. Deixa-me expor o meu pensamento. Não me interrompas. Se Deus estivesse plenamente certo de que Abraão deixaria cair o seu braço sobre o rapaz, teria deixado consumar-se o sacrifício. E teria ressuscitado Isaac. Acaso não se diz que Deus pode despertar os mortos? Ao pôr um carneiro nas sarças, ao salvar a criança, deixou na incerteza a obediência última de Abraão. Não nos ensinou Gamaliel, o Cabalista, que há momentos, aberturas no universo, em que Deus interroga a Sua própria presciência, em que o Anjo do Desconhecido, do sem nome, atravessa a luz do ser?
- Gamaliel, o herético. O feiticeiro e alquimista de Toledo...

Para o Papa ler , e se quiser comentar , aqui no Blog ,
quando estiver de passeio aqui em Portugal, e estiver um pouco aborrecido com as peregrinas e penitentes que lhe vão encher as ruas.

LN

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