É um dos primeiros daguerreótipos , com mais de cento e cinquenta anos. Geralmente explico como se trata de um processo positivo, em que a placa é exposta directamente, de tal modo que cada um é único. Se o vidro se partisse, perder-se-ia para sempre. O estojo é de couro velho, como uma caixa de jóias. O fecho está um bocado perro dos anos, mas a tampa abre-se facilmente. Lá dentro, a placa de vidro está acomodada numa almofadinha de veludo negro. Se o virar ligeiramente para a luz, a imagem brilha e cintila, tão exacta, tão brilhante e tão escura, que o momento em que foi tirada parece viver dentro do vidro. O sol toca os pilares e chaminés de Kersey Hall e lampeja entre as escuras árvores do final do Verão. A sua luz espalha-se pela relva, acaricia a curva dos degraus, passa pela porta entreaberta para onde se encontra uma figura com um vestido comprido. Foi então, nesse momento, que o obturador se abriu, agarrou um momento da luz e da escuridão, e o plasmou nesta placa de vidro, fixando o sol e as sombras desses poucos segundos para sempre. E o sol continuou a mover-se e levou com ele o dia, enquanto a placa fixou aquelas sombras e as manteve, e as levou para outros sítios e para outros tempos antes de ser outra vez encontrada. Um desses tempos foi o meu.
"A Matemática do Amor", Emma Darwin
"A Matemática do Amor", Emma Darwin
LN
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