terça-feira, 1 de junho de 2010

"Sacrificios para todos" e Noticías da Crise


"SACRIFICIOS PARA TODOS"

Duas notícias de ontem dão conta da revolução semântica sofrida pela palavra "todos" quando usada, como fazem PS e PSD, na expressão "sacrifícios para todos".

A primeira é da Lusa: o presidente da Antrop anunciou que está a negociar com o Governo aumentos de 3 a 4% nos transportes já a partir de 1 de Julho. Com mais 1% do IVA isso significará, para "todos" os portugueses, mais de 4 ou 5% no preço dos bens essenciais.

Entretanto, os portugueses com emprego verão, com as subidas do IRS, diminuir os salários e os 730 mil desempregados e beneficiários do RSI ficarão, com a razia nos subsídios, ainda mais pobres.

A segunda é do "Correio da Manhã": os deputados, a quem, pois os "sacrifícios são para todos", haviam saído pela porta 5% dos vencimentos, verão agora entrar pela janela da AR aumentos de 25% para viagens, transportes e despesas diversas, designadamente "artigos honoríficos e de decoração".

É justo. Se "todos" vamos pagar mais pelo pão e pela água, porque não haveríamos de pagar também mais pelos nossos 230 (o máximo que a Constituição permite) deputados, que são bens não menos essenciais?


Manuel António Pina , Crónica no JN 26 Maio 2010

"Noticías da Crise"

Não pago muitos impostos (pago apenas um pouco mais do que a banca, em percentagem algo como o dobro), mas tenho o gosto das inutilidades e tento-me às vezes a seguir saudosamente o rasto dos meus descontos através do tortuoso mundo da despesa pública.
Foi assim que descobri na estimada II Série do DR os despachos nºs. 8346, 8347, 8348, 8349, 8350, 8351, 8352, 8353, 8354, 8355, 8356 e 8357 da Secretaria Geral da Presidência do Conselho de Ministros requisitando 12 motoristas para o Gabinete do Primeiro-Ministro. Todos faziam já parte do selecto e felizardo grupo dos portugueses com emprego (na Deloitte & Touche, nos Bombeiros de Colares, no Sindicato dos Trabalhadores de Escritório, Comércio, Hotelaria e Serviços, na PSP e na Carris), e gostei de saber que os meus impostos servem para recompensar o mérito e não para dar trabalho a madraços desempregados. Ou, como fez o pelintra governo francês (7,5% de défice; Portugal tem 9,4%), para obrigar os ministros a guiar utilitários e andar de táxi ou a decorar os gabinetes com flores de plástico por serem mais baratas e durarem mais que as naturais.
Manuel António Pina, Crónica JN 27 Maio 2010

LN

Sem comentários: