sexta-feira, 1 de abril de 2011

Ajuda de Todos os Santos; Lusitânia , poema de António Nobre

Lusitânia no Bairro Latino

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Georges! anda ver meu país de Marinheiros,
O meu país das naus, de esquadras e de frotas!
Oh as lanchas dos poveiros
A saírem a barra, entre ondas de gaivotas!

Que estranho é!
Fincam o remo na água, até que o remo torça,
À espera de maré,
Que não tarda aí,
avista-se lá fora!
E quando a onda vem,
fincando-a com toda a forca,
Clamam todas à urra: «Agora! agora! agora!»

E, a pouco e pouco, as lanchas vão saindo
(Às vezes, sabe Deus, para não mais entrar...)

Que vista admirável! Que lindo! Que lindo!
Içam a vela, quando já têm mar:
Dá-lhes o Vento e todas, à porfia,
Lá vão soberbas,
sob um céu sem manchas,
Rosário de velas, que o vento desfia,
A rezar, a rezar a Ladainha das Lanchas:
Senhora Nagonia! Olha acolá!

Que linda vai com seu erro de ortografia...
Quem me dera ir lá! Senhora Daguarda!
(Ao leme vai o Mestre Zé da Leonor)
Parece uma gaivota: aponta-lhe a espingarda O caçador!
Senhora d'ajuda!
Ora pro nobis!
Caluda!
Semos probes!

Senhor dos ramos
Istrela do mar! Cá bamos!
Parecem Nossa Senhora, a andar.
Senhora da Luz!
Parece o Farol...

Maim de Jesus! É tal e qual ela, se lhe dá o sol!
Senhor dos Passos!
Sinhora da Ora!
Águias a voar, pelo mar dentro dos espaços

Parecem ermidas caiadas por fora...
Senhor dos Navegantes!
Senhor de Matosinhos!
Os mestres ainda são os mesmos dantes
- Lá vai o Bernardo da Silva do Mar,
A mailos quatro filhinhos,
Vasco da Gama, que andam a ensaiar...
Senhora dos aflitos!
Mártir São Sebastião!
Ouvi os nossos gritos!
Deus nos leve pela mão!
Bamos em paz!

O lanchas, Deus vos leve pela mão!
Ide em paz! Ainda lá vejo o Zé da Clara,
os Remelgados, O Jeques, o Pardal, na Nam te perdes,
E das vagas, aos ritmos cadenciados,
As lanchas vão traçando, à flor das águas verdes,
«As armas e os varões assinalados...»

Lá sai a derradeira!
Ainda agarra as que vão na dianteira,..
Como ela corre! com que força o Vento a impele:
Bamos com Deus!
Lanchas, ide com Deus! ide e voltai com Ele
Por esse mar de Cristo...
Adeus! adeus! adeus!
António Nobre


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