terça-feira, 12 de abril de 2011
Estamos na Europa, civilizada
Década de Salomé
Vai terminar esta prosa
Estamos na década de salomé
Será o apocalipse ou a torneira
A pingar no bidé?
É meio-dia
dia de feira Mensal em Vila Nogueira
Estamos na década do bricolage
Diz o jornal que um emigra
Morreu em Mira
Antes da data
Do mariage
Estamos na Europa Civilizada
Já cá faltava
Uma maison
Pour la Patrie
P'lo Volkswagen
Acabou-se a forragem
Viva o Patron!
Já tem destino esta terra
Vamos mudar para o marché aux puces
O tempo das ceroilas está no fio
Agora só de trousses
É meio-dia
dia de feira Mensal em Vila Nogueira
Estamos na década do bricolage
Diz o jornal que um emigra
Morreu em Mira
Antes da data
Do mariage
Saem quarenta mil ovos moles
Vilar Formoso
É logo ali
Faz-se um enxerto
Com mijo de gato
Sola de sapato
Voilá Paris!
Aos grandes supermercados
Chega a cultura num bi-camion
Camões e Eça vendem-se enlatados
Lavados com «champon»
É meio-dia
dia de feira Mensal em Vila Nogueira
Estamos na década do bricolage
Diz o jornal que um emigra
Morreu em Mira
Antes da data
Do mariage
Estamos na Europa Radarizada
Já cá faltava Uma turquês
Para o controle
Do bravo e do manso
Vivaço e do tanso
Em cada mês!
A fina flor do entulho
Largou o pêlo ganhou verniz
Será o Christian Dior
o manajeiro
A mandar no País?
Estamos na Europa
Do «estou-me nas tintas»
Nada de colectivismos
Chacun por si, meu
E chacun por soi
Tê Vê e cama
Depois da esgaça
Até que lhes dê traça
A culpa é toda
Do Erre Hagá
Levam-te à caça
Dos gambozinos
Com dois ouriços
Em cada mão
Ai velha fibra
Do bairro de Alfama
A carcaça do Gama
Vai a leilão
José Afonso
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