sábado, 21 de maio de 2011

ECCE HOMO

Poema dedicado ao Jerónimo de Sousa



Ecce Homo



O homem que ainda ouve o eco do

mundo, que não se limita a olhar para

si próprio, que respira o estrume das

civilizações e o perfume da vida,

não tem tempo para este silêncio. A

sua voz nasce do mais fundo da ira

que aflige os que não sabem de onde

vêm; a sua dor cresce como a planta

que corrompe a alma dos que se

perderam, e não se lembram já para

onde vão. O homem de pé tem

a idade que lhe quiserem dar; os

seus braços erguidos são os de todos

os que os deixaram cair; os seus

olhos vêem o que já não sabemos

ver. Mas este homem precisa da nossa

voz, para que o silêncio não o

afaste de nós. Este homem continua

a hesitar, quando os gritos lhe chegam

de cada lado do horizonte. Este homem

tem no rosto o espanto do que fizemos;

e continua a andar, como se ainda houvesse

um rumo para os seus passos.


Nuno Judice



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