sábado, 4 de abril de 2009

Festa da Poesia - Fernando Pessoa

O primeiro poeta da tarde de Poesia no CCB, no dia 21 Março, foi Fernando Pessoa. O actor Pedro Lamares leu poesias dos dois heteronimos Alberto Caeiro e Álvaro de Campos.
Foi muito bom. Os poemas eram muito bons e o actor lê muito bem a poesia do Pessoa.

foto no Blog Novos Livros

Deixo dois poemas que escolhi dos heteronimos de F.Pessoa, que não foram os que o actor Pedro Lamares leu (Já não sei quais são).
Estes foram os que encontrei no WebClub.


Poema

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.


A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas
Essas e o que falta nelas eternamente;
Tudo isto faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos

O amor é uma companhia,
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo
tudo.
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.

Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores
altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na
ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a
cara dela no meio.

Alberto Caeiro , de "o pastor amoroso"

LN