quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Eleições legislativas - VOTAR à ESQUERDA! (9)

Ler esta crónica de Miguel Sosa Tavares , vou deixar as partes mais interessantes
Que campanha entusiasmante!
Miguel Sousa Tavares (expresso, 5 Setembro,2009)

" José Sócrates vai a um encontro da JS (um acampamento ou coisa que o valha) e, avaliando a assistência que o ouve, resolve gabar-se das políticas de "esquerda" e de "modernidade" do seu Governo, dando dois exemplos: "Acabámos com o divórcio litigioso" e "demos direitos às uniões de facto". Como nada disto é ao acaso, presumo que Sócrates estava a seguir o guião eleitoral dos 'marqueteiros' do PS: falar de economia à classe média, de solidariedade e pensões aos velhos e de "questões fracturantes" à juventude. O guião pode ter a sua lógica, mas o espectáculo roçou a indecência, de uma demagogia quase insuportável. "
" Políticas de esquerda, meus queridos meninos, é, por exemplo, não ter taxas de justiça que só a torna acessível a quem é rico, é não taxar os rendimentos do capital especulativo a 10% e os do trabalho até 42%, é não privatizar bens essenciais como a electricidade e a água (que, como bem alertou Francisco Louçã, fazem parte da agenda secreta do PS), é não ter uma política externa que pactua com todos os ditadores e corruptos do planeta se isso garantir negócios às nossas empresas, é não entregar a frente do rio, em Lisboa, a negócios tão escandalosos como o do terminal de contentores da Liscont, é não sacrificar toda a paisagem natural a projectos PIN que mais não são do que um pretexto para vandalizar sem lei, é não entregar a Reserva Agrícola Nacional aos eucaliptos e à especulação urbanística. Isso, meninos, são políticas de esquerda. Da próxima vez que estiverem com o secretário-geral do PS, perguntem-lhe sobre elas. E deixem lá o divórcio, as uniões de facto e outras coisas 'fracturantes', que vocês não entendem sequer que são apenas uma nuvem de pó para iludir juventudes partidárias sem causas e esquerdistas de bares lisboetas. "

" E vocês já atentaram bem na doutora Manuela Ferreira Leite? Excelente pessoa, sem dúvida séria e bem intencionada. Ponto final. Não há nada ali que se possa aproveitar politicamente: uma ideia, um projecto, um pensamento novo, uma estratégia alternativa para o país. Nada: é uma cabeça oca. Olhem para o 'programa' que a tanto custo finalmente apresentou. Cinco áreas prioritárias: educação, justiça, segurança, solidariedade, economia. Bem observou Marcelo que este genial programa pode servir não só para estas legislativas como também para as que se seguirão inevitavelmente dois anos depois, segundo a sua previsão. Eu diria mesmo mais: servirão para toda e qualquer eleição nos séculos mais próximos."

" Nas poucas coisas onde ela decidiu concretizar um mínimo as suas intenções de governação, o resultado é desastroso. Percebe-se que quer liquidar o Serviço Nacional de Saúde, uma das poucas realizações públicas que têm melhorado com o tempo e que funcionam aceitavelmente. Quer apoiar e apostar nas PME, ideia roubada a Paulo Portas. E supunha-se que queria parar com os grandes investimentos públicos com que José Sócrates se propõe combater o desemprego e endividar-nos por gerações. Mas, afinal, não: ela quer apenas suspender, reanalisar, ponderar, etc. - mas não em função de opções estratégicas de desenvolvimento do país e sim em função das disponibilidades de tesouraria. Ou seja: à primeira pressão da clientela das obras públicas, a drª Ferreira Leite pararia logo de ponderar e analisar."

"Isto é o programa dela. Igual ou pior é o resto. Se Sócrates irrita muitas vezes pela arrogância, Ferreira Leite irrita outras tantas por aquela pose de superioridade moral, de 'senhora da verdade', que para aí ostenta em cartazes, declarações e acções de campanha. Dá ideia de que acredita que o seu currículo é suficiente para que os portugueses lhe entreguem o poder sem mais: sem programa, sem ideias, sem ter de sujar as mãos a bater-se pelos votos. Mas se há coisa que lhe falha, além de ideias, é currículo: já exerceu várias funções de governação e em nenhuma se distinguiu particularmente, a começar pela governação das finanças públicas no governo de opereta de Durão Barroso. Se a isso acrescentarmos as constantes contradições entre o que diz e o que faz e o que diz e rediz, além das extraordinárias confissões que às vezes, inadvertidamente, lhe saem assim pela boca fora, fica difícil de perceber como é que os gurus eleitorais do PSD imaginam poder levar a senhora à vitória, daqui por três semanas. "
LN

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