terça-feira, 1 de setembro de 2009

Miguel Esteves Cardoso na Festa do Avante (1)

REPORTAGEM, UMA AVENTURA DENTRO DO COMUNISMO REAL.
O MEC FOI À FESTA DO AVANTE!
REPORTAGEM, Uma aventura dentro do comunismo real.

E teve medo, muito medo. Às constantes tentativas de intimidação por parte dos inimigos comunistas, o repórter assumidamente reaccionário respondeu com a sua polaróide e registou todas as adversidades. Entre uma e outra conversas mais azeda, ainda teve tempo para comer bem e beber melhor.


Artigo de Miguel Esteves Cardoso.
(revista Sábado 13 Setembro de 2007)
“Dizem-se muitas mentiras acerca da Festa do Avante! Estas são as mais populares: que é irrelevante; que é um anacronismo; que é decadente; que é um grande negócio disfarçado de festa; que já perdeu o conteúdo político; que hoje é só comes e bebes.
Já é a Segunda vez que lá vou e posso garantir que não é nada dessas coisas e que não só é escusado como perigoso fingir que é. Porque a verdade verdadinha é que a Festa do Avante faz um bocadinho de medo.
O que se segue não é tanto uma crónica sobre essa festa como a reportagem de um preconceito acerca dela - um preconceito gigantesco que envolve a grande maioria dos portugueses. Ou pelo menos a mim.
Porque é que a Festa do Avante faz medo?
É muita gente; muita alegria; muita convicção; muito propósito comum. Pode não ser de bom-tom dizê-lo, mas o choque inicial é sempre o mesmo: chiça!, Afinal os comunistas são mais que as mães. E bem dispostos. Porquê tão bem dispostos? O que é que eles sabem que eu ainda não sei?
É sempre desconfortável estar rodeado por pessoas com ideias contrárias às nossas. Mas quando a multidão é gigante e a ideia é contrária é só uma só – então, muito francamente, é aterrador.
Até por uma questão de respeito, o Partido Comunista Português merece que se tenha medo dele. Tratá-lo como uma relíquia engraçada do século XX é uma desconsideração e um perigo. Mal por mal, mais vale acreditar que comem criancinhas ao pequeno-almoço.
BEM SEI QUE A condescendência é uma arma e que fica bem elogiar os comunistas como fiéis aos princípios e tocantemente inamovíveis, coitadinhos.
É esta a maneira mais fácil de fingir que não existem e de esperar, com toda a estupidez, que, se os ignoramos, acabarão por se ir embora.

As festas do Avante, por muito que custe aos anticomunistas reconhecê-lo, são magníficas.
É espantoso ver o que se alcança com um bocadinho de colaboração. Não só no sentido verdadeiro, de trabalhar com os outros, como no nobre, que é trabalhar de graça.
A condescendência leva-nos a alvitrar que “assim também eu” e que as festas dos outros partidos também seriam boas caso estivessem um ano inteiro a prepará-las. Está bem, está: nem assim iam lá. Porque não basta trabalhar: também é preciso querer mudar o mundo. E querer só por si, não chega. É preciso ter a certeza que se vai mudá-lo.
Em vez de usar, para explicar tudo, o velho chavão da “ capacidade de organização” do velho PCP, temos é que perguntar porque é que se dão ao trabalho de se organizarem.
Porque os comunistas não se limitam a acreditar que a história lhes dará razão: acreditam que são a razão da própria história. É por isso que não podem parar; que aguentam todas as derrotas e todos os revezes; que são dotados de uma avassaladora e paradoxalmente energética paciência; porque acreditam que são a última barreira entre a civilização e a selvajaria. E talvez sejam. Basta completar a frase "Se não fossem os comunistas, hoje não haveria..." e compreende-se que, para eles, são muitas as conquistas meramente "burguesas " que lhe devemos, como o direito à greve e à liberdade de expressão. "


CONTINUA amanhã o resto do artigo

Obrigada Miguel por escreveres um texto tão livre e sem nenhum preconceito...
LN

2 comentários:

MEC disse...

LN:

No ano em que fui à festa do Avante, andava de bengala e não pude apreciá-la devidamente.

Mesmo assim, adorámos - e foi, para mim, uma lição de alegria; organização e de pureza de bons sentimentos.

Já lá tinha ido (já sabia que era boa a vossa festa) e nunca fui generoso no que escrevi.

A Festa é mesmo boa; vocês são mesmo boas pessoas e bons portugueses e, acredita, se não fossem certos preconceitos pífios e armados ao pingarelho, que lamento (embora reconheça e identifique) em mim, também eu seria alegremente comunista; do PCP; só pela alegria e verdade que me transmitiram.

Quem sabe o que nos guarda o Futuro?

Uma coisa é certa: o nosso futuro é melhor graças aos comunistas portugueses; passados, presentes e futuros.

Posso ser conservador - mas não sou estúpido.

Um abraço,

Miguel

Anónimo disse...

Gostei muito do seu comentario, sou comunista, conheço uma amiga que foi despedida por dizer ao patrão que foi a festa, vivemos ainda muito mal com gente assim, viva a Liberdade, Viva Portugal mais justo, produtivo e a cresçer, mesmo sem termos ate a data o direito ao poder, mas continuamos a acreditar, Viva a festa do Avante
Pedro Seixas